Veículos

Um fabricante brasileiro de veículos: A história da Agrale

Um dos maiores desejos dos brasileiros é ver uma montadora de veículos 100% nacional, e já temos um fabricante nascido e criado no Brasil: a Agrale. Embora a empresa não produza automóveis, ela fabrica caminhões, ônibus, chassis, tratores, motores e utilitários 4×4. A Agrale até já produziu motos no passado. Podemos dizer que a Agrale é um orgulho nacional, tanto pelos seus veículos e produtos, como pela sua capacidade de se reinventar ao longo de seus mais de 60 anos de existência.

A origem da Agrale

A Agrale foi fundada em 1962 por Francisco Steedle, em Caxias do Sul. Inicialmente, a empresa começou construindo tratores para uma marca alemã, focando no segmento de tratores pequenos. Com o passar do tempo, a Agrale foi abrindo caminho no meio rural e, em 1982, iniciou uma nova fase com a comercialização de caminhões leves.

O primeiro modelo de caminhão leve da Agrale foi o TX100, baseado em um modelo da Fiat na Itália. Ele suportava até 100 kg e era equipado com o motor diesel da própria Agrale, que tinha apenas dois cilindros. Mesmo assim, a empresa conseguiu vender 200 unidades no primeiro ano. Pouco tempo depois, a Agrale lançou mais dois modelos de caminhões leves: o 1600 e o 1800, ambos também de pequeno porte, mas com mais força.

A partir das vendas de caminhões leves e microônibus, a Agral iniciou um processo de inovação nos dois segmentos. A empresa foi a primeira a fabricar um cavalo mecânico leve, o 8500 TR, que se tornou a preferência de muitas autoescolas que ministravam o curso de certificação para motoristas de carreta. Outro grande passo da empresa foi a parceria com a Navistar, passando a montar no Brasil os caminhões americanos da International. O destaque era o modelo 9800D.

As crises e a reinvenção da Agrale

A Agrale enfrentou duas crises ao longo de sua história, que a obrigaram a se reinventar para continuar sobrevivendo. A primeira grande crise foi nos anos 90, conhecida como a crise do mercado agrícola. Nesse período, o setor teve dois anos de crescimento seguidos por dois anos de queda.

Para superar essa crise, Steedle foi obrigado a vender uma de suas operações mais rentáveis: a Frasle, uma fabricante de pastilhas de freio e autopeças que pertencia ao grupo. O comprador foi outro grande grupo gaúcho, a Randon. A Frasle era responsável por mais de 60% do faturamento da Agrale, e a venda foi feita para pagar as dívidas e dar um novo direcionamento aos negócios da empresa.

A Agrale fechou uma parceria com a Marco Polo e começou a fabricar chassis de ônibus, um mercado até então concentrado no exterior. A ideia era fazer um chassis planejado para microônibus. A parceria deu origem ao Volare, o primeiro microônibus totalmente nacional. Esse segmento cresceu rapidamente, e a Agrale passou de uma produção de 300 unidades por ano para 6.000 unidades anuais.

Em 2004, a Agrale lançou uma linha de viaturas, o Maruá Tadley. No entanto, em 2013, uma nova crise atingiu a empresa. Nesse ano, a produção de caminhões e ônibus atingiu o seu pico devido a um excesso de financiamento do programa de sustentação do investimento. Porém, a crise política e econômica que o Brasil enfrentou nos anos seguintes refletiu na Agrale, resultando em uma queda de 67% nas vendas de caminhões e de 1/3 nas vendas de ônibus em relação a 2013.

A empresa teve que reduzir sua equipe de 2.400 para 800 funcionários e fazer desinvestimentos em operações que não trariam retorno a curto prazo. Priorizou-se os negócios com maior liquidez. Para superar a crise, a Agrale adotou duas estratégias: vender chassis de microônibus off-road para um programa chamado “Caminho da Escola” e oferecer serviços para montadoras terceiras utilizando sua infraestrutura.

O Futuro Está em Novas Tecnologias

Para o futuro, a Agrale está apostando em novas tecnologias. Na Argentina, a empresa já tem um ônibus rodando abastecido por energia elétrica em parceria com uma empresa de Londres. A maior aposta da empresa é nos veículos movidos a gás, principalmente o gás advindo do lixo.

A Agrale começou a desenvolver ônibus a gás em 2001, a pedido da Petrobras. Nos últimos anos, a empresa voltou sua atenção para o metano, um gás originado do lixo orgânico. Cerca de 50% dos municípios brasileiros têm aterros sanitários lotados, e o lixo orgânico produz metano, que muitas vezes é queimado ou vazado para o meio ambiente.

A Agrale percebeu que seus motores têm a capacidade de serem abastecidos com biometano, ou seja, gás metano usado como bioenergia. A empresa tem feito testes e está empenhada em desenvolver frotas de ônibus municipais abastecidos por energia proveniente do lixo. No entanto, existem desafios a serem enfrentados, como o preço e a infraestrutura necessária para transformar o metano em bioenergia.

A Agrale é um exemplo de empresa brasileira que se reinventa e supera crises ao longo de sua história. Com mais de 60 anos de existência, a Agral passou por diferentes desafios, mas sempre encontrou oportunidades para se manter de pé. Desde a venda da Frasle, a parceria com a Marco Polo até o desenvolvimento de tecnologias inovadoras, a empresa tem se adaptado às demandas do mercado e buscado novas soluções.

Os resultados recentes da Agrale mostram que sua estratégia tem sido eficaz. Após um período de queda no faturamento, a empresa está retomando seu crescimento. Em 2021, foram faturados mais de R$570 milhões, e em 2022, mais de R$820 milhões. A perspectiva é que esse crescimento se mantenha nos próximos anos.

A Agrale é apenas uma das empresas brasileiras que representa bem o potencial nacional. Existem outras empresas nacionais que também têm se destacado, mas nem sempre são mencionadas. É importante valorizar e reconhecer o trabalho dessas empresas, que contribuem para a economia do país e para o desenvolvimento tecnológico.

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